terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sem Juridiquês!

A reeducação linguística tanto nos tribunais como nas faculdades de Direito, com o uso de uma linguagem mais direta e objetiva, foi considerada o grande desafio da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), que em 2005 já iniciava uma campanha pela Simplificação da Linguagem Jurídica. O acesso ao Poder Judiciário ainda parece confuso para o cidadão e as causas da distância são pesquisadas com frequência pelas entidades jurídicas. Dois anos antes da campanha da AMB, uma pesquisa revelou que, depois da morosidade dos processos, as expressões jurídicas eram o que mais incomodavam o cidadão.
O próprio presidente da associação, em entrevista para a revista Língua Portuguesa naquela época, ironizou: “O vetusto vernáculo rnaneiado no âmbito dos excelsos pretórios, inaugurado a partir da peça ab ovo, contaminando as súplicas do petitório, não repercute na cognoscência dos freqüentadores do átrio forense”, disse o desembargador Rodrigo Collaço.
A diferença entre o técnico e o arcaico ou rebuscado não indica, necessariamente, estilo. Muitos profissionais ainda hoje defendem o uso de termos jurídicos antigos ou em latim como forma de integração na área e demonstração de conhecimento. Besteira. Para advogado e jornalista Márcio Chaer, diretor de redação do site Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), “decisões incompreensíveis são como o câncer: ninguém pode ser a favor”. Chaer diz também que advogados poderiam “desistir de entupir” petições de argumentos inúteis, sintetizando os pedidos.
Uma das argumentações que resistem à simplificação da linguagem jurídica seria a utilização de mais palavras no lugar de termos técnicos que indicam o descrito de forma resumida e precisa. No entanto, existe uma diferença entre o técnico necessário e o excesso para encher linguiça. Bem, nada como o bom senso. Um detalhe importante é diferenciar a conversa com o cliente, que não é da área; além disso, outro ponto é a utilização de linguagem própria quando ela facilita o entendimento entre profissionais da área – usada por todas as áreas! Você já ouviu falar de economês? Pois é, isso também não é idioma! Que tal mediquês? Ah, duvido que você sairia de uma consulta médica sem entender o que você tem, qual será o tratamento e, principalmente, se vai sobreviver!
Veja o livreto que a AMB lançou durante a campanha (http://www.amb.com.br/?secao=campanha_juridiques).

Fonte: Liliam Raña - jornalista e estudante de Direito
blog: liliamrana.wordpress.com
e-mail: liliam.rana@estadao.com.br

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Revisor

O revisor de textos  é hoje figura cada vez mais rara nas empresas de comunicação, que comumente o substituem por ferramentas virtuais conhecidas como corretores de texto ou ortográficos, mas estas estão muito longe de preencher a lacuna deixada pela ausência deste profissional.

O praticante deste ofício não realiza apenas uma mecânica correção gramatical, mas sim uma completa intervenção no texto a ser aperfeiçoado. O revisor pode transformar desde meras palavras aqui e ali, até parágrafos inteiros, editando-os ou enriquecendo-os com a inserção de novos vocábulos.
Nas redações ou nas editoras ele trabalha conjuntamente com os profissionais responsáveis pela publicação dos textos revisados. É importante para o bom revisor e seus coordenadores verificarem não apenas a gramática, mas também a coerência discursiva, para que os escritos não se tornem confusos para o leitor.
O profissional competente não empreende uma leitura como qualquer outra pessoa; o revisor praticamente radiografa as palavras, buscando seus meandros mais íntimos e novas possibilidades e articulações que elas lhe ofereçam.
O revisor atua normalmente nas empresas jornalísticas e nas editoras, preparando o texto até que ele se transforme em sua versão final, pronta para ser publicada. Mas ele também pode realizar a revisão de pesquisas acadêmicas, complementando a revisão inicial do próprio autor do trabalho, o qual quase sempre faz uma autorrevisão antes de transferi-lo para este profissional, pois normalmente o criador do texto está muito ligado a ele e, portanto, mais propenso a erros. Na etapa final, porém, o escritor fará uma última análise das intervenções do revisor, para captar se o objetivo de seu trabalho foi alcançado.
A revisão se processa em várias fases. A primeira delas é conhecida como revisão primária, que às vezes é difícil de distinguir da etapa do copidesque – burilamento textual que pode ser elaborado igualmente por um redator – ou da preparação de texto – sua ordenação em parágrafos, capítulos, de forma a ganhar o formato final que será consumido pelo leitor. Este trabalho de revisão se atém mais aos aspectos ortográficos e sintáticos. Nas pesquisas oriundas de instituições de ensino é também realizada, neste momento, a adequação aos parâmetros da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - ou a outros órgãos similares.
Na Revisão Secundária são enfocadas as expressões verbais, os exageros no uso da eufonia – busca de sons harmoniosos na combinação das palavras -, a linguagem coloquial, a inteligibilidade textual, a sintaxe e a explanação das idéias. Todos os aspectos do idioma são profundamente observados. A Revisão de Provas é elaborada quando o livro já está disposto visualmente no formato da página; portanto todos os detalhes relacionados a esta diagramação devem ser verificados.
Finalmente, na revisão final, é empreendida uma leitura derradeira do escrito, quando então se observam as mínimas miudezas que podem ter restado. Lapidam-se as últimas arestas, antes que soe o momento da entrega do texto para publicação. E, claro, sempre restarão detalhes a serem conferidos enquanto for realizada uma nova busca. Daí o leitor normalmente ainda encontrar pequenos lapsos no momento do consumo do texto.
(Adaptado de várias fontes)